...quando «o seu pensamento, leve como um sonho, seguia as pegadas dele». Quem se lembrava já do monstro? Mas, para o herói, o monstro nunca é um só. Por isso, não deixa que o esqueçam: cada monstro é uma preparação para o monstro seguinte. É mais fácil esquecer a princesa. Os monstros possuem uma identidade difusa, que se encontra e se repete em cada fragmento de monstro, ao passo que cada mulher é uma silhueta, e a todo o momento uma nova silhueta pode obscurecer as outras.___
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Entre o herói e a princesa há um equívoco que continua a reflectir-se em muitas histórias de homens e mulheres, pelo menos enquanto o homem pensar que é o herói e a mulher pensar que é a princesa, ou seja, quase sempre.___
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Já Platão censurava a vida das mulheres espartanas por
não estar organizada com a mesma minúcia da vida dos
homens, deixando assim caminho aberto à «licenciosidade».
A malícia ateniense não quer recordar muito mais do que
as suas coxas nuas, que o peplo aberto ao lado deixava entrever.
O lírico Ibico chama às Espartanas «exibidoras de
coxas». Mas também sabiam apreciar a sua radiante beleza.
Lisístrata recebe assim a espartana Lampito: «Como a tua
beleza resplandece, dolcíssima. Que rosado, que rijo é o teu
corpo. Estrangularias um touro. Lampito: Sim, pelos Dioscuros.
Treino-me no ginásio e dou pontapés a mim própria.
Cleonice: Que belas tetas tens. Lampito: Apalpais-me como
um animal a sacrificar». No ginásio, as raparigas espartanas estavam nuas, competiam com jovens nus, e encostavam-se uns aos outros «não por necessidades geométricas, mas eróticas», anota Platão.
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O excesso era a coisa odiada por toda a gente. Casar significava abandonar,em certas noites, o dormitório dos companheiros para se introduzir no da esposa. Eram uns amores furtivos, rápidos, sem o sono em comum. «Alguns tiveram filhos sem nunca terem visto as mulheres à luz do dia».___
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Passou algum tempo. Quando Atena voltou a aparecer na forja de Hefesto para ir buscar a armadura, o divino demiurgo começou a coxear à volta dela na escuridão. A deusa sentiu uns dedos longos e nervosos agarrarem-na e umas pernas magras e musculosas empurrarem-na contra a parede. Enquanto a deusa se afastava, o sémen de Hefesto jorrou-lhe para uma coxa, pouco acima do joelho.___
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A cena passou-se em Creta. Rea Deméter escondera a filha numa gruta, onde Perséfone tecia, no tear de pedra, uma túnicasemeada de flores. De guarda, à entrada da gruta, vigiavam serpentes. Mas uma outra sepente, que era Zeus, adormeceu-as com o olhar, enquanto rastejava para a gruta. E antes de Perséfone poder defender-se, a sua pele branca unia-se às escamas dessa sepente, que a lambia com uma baba amorosa. Na escuridão da gruta, o corpo aterrador de Persófone irradiava luz, como outrora o corpo de Fanes. Daquele coito violento nasceu Zagreus, o primeiro Diónisos.___
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