LuXCorpUS

O teu universo em constante trespassar de mim.

sábado, abril 28, 2007

A Imortalidade

Tinha rompido há oito dias já as minhas botas
Nas pedras dos caminhos...

escreve Rimbaud.
Caminho: faixa de terra sobre a qual se anda a pé. A estrada distingue-se
do caminho não só por ser percorrida de automóvel, mas também
por ser uma simples linha ligando um ponto a outro. A estrada
não tem em si própria qualquer sentido; só têm sentido os dois pontos
que ela liga. O caminho é uma homenagem ao espaço. Cada trecho do
caminho é em si próprio dotado de um sentido e convida-nos a uma
pausa. A estrada é uma desvalorização triunfal do espaço, que hoje não
passa de um entrave aos movimentos do homem, de uma perda de
tempo.
Antes ainda de desaparecerem da paisagem, os caminhos desapareceram
da alma humana: o homem já não sente o desejo de caminhar
e de extrair disso um prazer. E também a sua vida ele já não vê como
um caminho, mas como uma estrada: como uma linha conduzindo de
uma etapa à seguinte, do posto de capitão ao posto de general, do estatuto
de esposa ao estatuto de viúva. O tempo de viver reduziu-se a
um simples obstáculo que é preciso ultrapassar a uma velocidade sempre
crescente.
O caminho e a estrada implicam também duas noções de beleza.
Quando Paul declara que há uma bela paisagem em determindao sítio,
isso quer dizer: se parares o carro, verás um belo castelo do século XV
com um parque ao lado; ou então: há ali um lago e cisnes a nadar
na sua superfície cintilante que se perde na distância.
No mundo das estradas, uma paisagem bela significa: um ilhéu de
beleza, ligada por uma longa linha a outros ilhéus de beleza.
No mundo dos caminhos, a beleza é contínua e sempre em transformação:
diz-nos a cada passo «Pára!»

M.K.
___
VIRar o olhO ao contRÁrIo o_O

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial