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O teu universo em constante trespassar de mim.

sábado, abril 28, 2007

A Imortalidade

Rilke disse do amor de Bettina: «Um amor assim não precisa de
retribuição, contém em si mesmo o grito de chamamento e a resposta;
presta ouvidos a si mesmo.» O amor semeado no coração dos seres
humanos por um jardineiro dos anjos não precisa de nenhum objecto,
de nenhum eco, de nenhuma Gegen-Liebe (contra-amor, amor retribuído),
como dizia Bettina. O amado (Goethe, por exemplo) não é
nem a causa nem o fim do amor.
Na época da sua correspondência com Rilke, Bettina dirigia também
a Arnim cartas de amor. Escreve numa delas: «O amor verdadeiro
(die wahre Liebe) é incapaz de infidelidade.» Esse amor que não
se preocupa com a retribuição («die Liebe ohne Gegen-Liebe») «procura
o amado sob todas as metamorfoses.»
Se o amor tivesse sido semeado no coração de Bettina não por um
jardineiro angélico, mas por Goethe ou por Arnim, teria desabrochado
nela um amor por Goethe ou por Arnim, amor inimitável, não permutável,
destinado àquele que o semeara, àquele que fosse amado, sendo
por isso um amor assim como uma relação: uma relação privilegiada entre
duas pessoas.
Em contrapartida, aquilo a que Bettina chama «wahre Liebe»
(amor verdadeiro) não é o amor-relação, mas o amor-sentimento: a
chama que uma mão celeste acende na alma de um homem; a tocha
à luz da qual o amante «procura o amado sob todas as metamorfoses».
Um amor assim (o amor-sentimento) não conhece a infidelidade,
porque ainda que o objecto mude, o amor continua a ser a mesma
chama, acendida pela mesma celeste mão.

M.K.
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